Tenho, já há alguns anos, nutrido um interesse em voltar a andar de patins, sendo que, nesta última quarta feira (dia 02/06/2010) iniciei os preparativos para minha volta à prática. Isto, incentivando minha namorada, Sanae, a também se engajar, no sentido de instaurarmos uma atividade "nossa", após certa frustração com as aulas de tango. Ela utilizaria meu antigo patins, com o qual vivi saudosos momentos, dos 11 aos 14 anos na pista de patinação Body Line, e na quadra do edifício Rouxinol, junto aos meus amigos de prédio. Já eu necessitaria de outro patins e, diante disso, iniciei uma pesquisa na itnernet, disposto a não adquirir um modelo inferior ao meu Rollerblade Macroblade Equipe.
Naquele dia e no seguinte, Youtube, Google e Orkut foram minhas ferramentas principais de pesquisa. No primeiro, conheci o slalom, também chamado de freestyle, um estilo de patinação no qual os praticantes executam manobras trançando as pernas, em torno de pequenos cones que comumente são dispostos enfileirados (vídeo de um grupo de garotos realizando o slalom no Parque do Ibirapuera em São Paulo: www.youtube.com/watch?v=kxibvIXfCh8). Interessei-me pelo estilo, por conta da importância de estabelecer metas de progresso para a perpetuação da prática e da maior proximidade com o tipo de patinação que eu praticava antes (em relação à qual eu nunca me atentei ao nome específico). No Google, comecei a pesquisar em fóruns, patins apropriados para o mesmo. Interessei-me por dois modelos: o Volt, lançamento recente da marca nacional Traxart e o Twister 243 da marca norteamericana Rollerblade. Por fim, no Orkut, ingressei na comunidade "Eu amo andar de patins", na qual criei um tópico buscando comparar ambos os modelos. (www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=726182&tid=5478481942851507823&start=1) Na mesma comunidade, fiquei atento aos comentários acerca de compras realizadas na loja virtual Life Street Wear, onde, após dialogar com outros membros da comunidade, encomendei o modelo da Rollerblade. Neste sentido, o que se ressaltou foi o problema da falta de modelos nacionais de alta qualidade e a diferença de preços do produto comprado nos EUA e do produto para importação, por conta dos impostos.
A entrega demoraria alguns dias após o pagamento e, tendo planejado andar de patins no parque do Ibirapuera em São Paulo com Sanae, pedi a meu irmão que me emprestasse seu patins (um patins de qualidade mediana) que ele já não usava mais. Naquela noite, na garagem de meu prédio, eu e Sanae andamos de patins por cerca de uma hora, ouvindo um CD de músicas Dance da década de 90, especialmente escolhido por serem as músicas que tocavam na época da Body Line. Durante este tempo, alternava-me entre o presente, buscando instruir Sanae e interagir com ela, e o passado, relembrando momentos naquilo que era uma espécie de rinque-boate. O prazer da sensação de deslizar pelo solo, por sua vez, mantinha-se o mesmo, e o presente começava a se afirmar perante o passado. O patins, porém, deixava a desejar, por conta dos pontos de pressão que machucavam meu pé. Logo, porém, eu teria aos pés o meu novo Rollerblade.
No dia seguinte, fomos ao Ibirapuera e lá ficamos por cerca de duas horas, junto a skatistas, patinadores, ciclistas, adultos, adolescentes crianças, e outros visitantes à pé. Ao longo da manhã, meus movimentos se tornavam cada vez mais naturais e eu, hoje mais experiente quanto ao aprendizado de técnicas corporais, percebi que patinaria melhor do que antes. Sanae, por sua vez, ganhava sutileza em seus movimentos e eu ficava feliz por ver que ela compartilhava comigo a motivação, mesmo após ser derrubada por um skatista iniciante distraído. Enfim teremos a "nossa" prática. Andar de frente, de costas, fazer curvas cruzando as pernas, cruzar pernas como no slalom, mas sem os cones ainda, perseguir pombas pela marquise, filmar trajetos coreografados, foram algumas das possibilidades praticadas. No entanto, não dialogamos com ninguém e não encontramos os garotos do slalom. Tenho a impressão de que aquele é um horário frequentado por uma maioria de iniciantes. Ao meio dia e meia, quando saímos do parque rumo a outros pontos da cidade que iríamos visitar, maior era o número de skatistas e patinadores, e maior era o número daqueles com um nível técnico superior.
_______
Sentindo-me sozinho no sábado à noite, dia 05/06/2010, tendo Sanae viajado neste dia, e após algumas tentativas frustradas de contactar amigos para sair, decidi me aventurar na Praça Arautos da Paz, levando comigo os patins emprestados de meu irmão. Antes disso, porém, visitei as comunidades do orkut "Roller na Praça Arautos da Paz" e "Patins inline Campinas", buscando por possíveis encontros noturnos de patinadores. No entanto, apesar do razoável número de membros (213 e 517 respectivamente), tais comunidades não apresentavam postagens recentes.
Saindo de casa, portando apenas carteira de motorista e chaves do carro, perguntei a minha irmã sobre a frequência na praça naquele horário (19:30). Tal pergunta desencadeou a preocupação dos familiares presentes (mãe, pai, irmã e cunhado), por conta da suposta presença de assaltantes, prostitutas e drogados, afetando a harmonia da pacata interação social na sala de estar de minha casa, e indicando um possível ponto de contraste entre o meu mundo e o mundo no qual ingressaria. Driblando a repreensão familiar, argumentei que não ficaria por lá se o ambiente não me parecesse seguro e fui.
No caminho, apreensivo quanto aos possíveis encontros, ouvindo no carro meu CD Dance 90, eu pensava no quanto a sociabilidade sobre rodas seria diferente da outra época. No entanto, ao chegar no local, fiquei receoso diante do vazio, da escuridão e dos três sujeitos que conversavam encostados em um muro na praça. Contornei-a, atento aos vultos que poderiam ser, ou que eu desejava que fossem patinadores e voltei para casa.
De volta ao computador, entrei novamente nas comunidades do Orkut supra citadas e, pesquisando, vi que alguns jovens costumavam andar no centro da cidade. Vi também, no Youtube, vídeos gravados em uma pista de patins e skate no Shopping Outlet Campinas. Suspeitando que a mesma havia fechado, telefonei ao shopping e, conversando com a atendente, confirmei minha suspeita. Em seguida, nova incursão, desta vez no centro, e nova frustração, diante da qual decidi por programas mais usuais para mim: apresentação musical de meu professor de violão, na Estação Guanabara e, em seguida, barzinho com uma amiga da pós-graduação.
_______
Fui à Praça Arautos da Paz novamente hoje, domingo, dia 06/06/2010 e, desta vez, tive êxito em interagir com outros patinadores. Cheguei por volta das 15:00 e parti às 18:30, sendo que posso dividir essas três horas em três momentos.
No primeiro momento, não tive interlocutores, dentre os skatistas que treinavam saltos diversos, as crianças que, sob a guarda dos pais, iniciavam o aprendizado da patinação, os ciclistas que treinavam manobras freestyle (suspeito que "ciclista" não seja o termo por eles empregado), caminhantes, patricantes de cooper e outros visitantes do parque. Apenas pratiquei algumas manobras, buscando aperfeiçoá-las e, em seguida, saí para uma volta por fora. Numa descida, cauteloso em minha volta à prática, fiz zigue-zagues, buscando, com isso, conter a aceleração, porém, presando pela técnica e diferenciando-me, assim, dos iniciantes. Neste momento, "vuch!", um patinador passou ao meu lado em alta velocidade, assustando-me. Mais uma volta e, outra vez, a mesma cena, desta vez com outro patinador. Pensei se aquelas seriam iniciativas de interação dos patinadores comigo, por conta de uma identificação, tendo eu, de forma não intencional, apresentado-me como um patinador de nível semelhante ao deles. Desenvolvimentos posteriores reforçam positivamente essa suspeita.
No segundo momento, na área de dentro, tive a alegria de ver um casal de namorados praticando o slalom, utilizando tampinhas de garrafa no lugar dos cones caraterísticos. Senti uma alegria inusitada, uma vez que antes eu estava descrente quanto à possibilidade de encontrar tão facilmente praticantes do estilo. Decidido a interagir, sentei-me na escadaria e comecei a observar. Eram iniciantes no estilo (algo diferente de ser iniciante no patins), não muito distantes daquilo que eu supunha ser meu nível inicial, a ponto de me intimidarem, e nem muito próximos, a ponto de eu não ter o que aprender com eles.
Enquanto isso, um ciclista freestyle, com sua bicicleta montada especificamente para o estilo, abordou-me. Ele tem 16 anos, pratica o estilo há quatro anos e costuma frequentar o parque cerca de uma vez por mês. Conversamos sobre patins, skate e bicicleta (freestyle) e, diante disso, atentei-me ao fato de que apesar das diferenças, há uma identidade comum a estas três práticas. Sem que eu perguntasse, o garoto, cuja oralidade chamava a atenção pela quantidade de gírias, justificou por várias vezes a sua prática, argumentando que é bom ter um esporte para praticar. A diferença de idade não parecia ser um empecilho àquela relação, uma vez que a mesma se dava em torno do esporte e, talvez, em torno do rendimento esportivo (suspeito que o garoto não teria me abordado caso me identificasse como um iniciante).
Fui, em seguida, conversar com o casal praticante de slalom. Era um casal nikkei e a garota utilizava uma calça da UNICAMP. Eram tímidos, porém simpáticos. Praticam há três meses o slalom. Conversamos sobre vídeos do estilo na internet, sobre os grupos que praticam no Ibirapuera em São Paulo e sobre um professor de patinação que outro dia estava lhes ensinando algumas coisas. Deixaram-me utilizar a trilha de tampinhas para praticar. Enquanto isso, aumentava o número de pessoas e de práticas na praça (crianças com triciclos motorizados, aviadores de aeromodelismo e muitos outros skatistas, patinadores e ciclistas). Vez ou outra eu comentava alguma coisa com o casal, sobre as manobras, porém, apesar de ter ficado por cerca de uma hora e meia junto a eles, não tivemos uma interação próxima.
Ao lado da trilha, alguns garotos construíram um obstáculo utilizando pedaços de madeira que encontraram na praça e começaram a saltar sobre ele. Percebi que aquela área havia se tornado a área dos patinadores, sendo que no setor ao lado, separado daquele por uma pequena escadaria, aglutinavam-se os skatistas. Percebi também que nem todos que utilizavam o obstáculo improvisado se conheciam, e que havia liberdade para qualquer um utilizá-lo. Mesmo assim, ao ver que o mesmo não estava mais sendo utilizado, pedi permissão aos construtores e, timidamente, fui executando meus saltos, o que, por sua vez, atraiu outro patinador (um dos que anteriormente havia passado em alta velocidade ao meu lado) para a atividade.
Enquanto nos alternávamos nos saltos, outro patinador chegou, amigo daquele que interagia comigo. Começou então um duelo entre os dois, que se provocavam e desafiavam amigavelmente, e aumentavam o nível de dificuldade, erguendo as madeiras e executando meio giros. Permaneci fora do duelo, porém dentro da prática, e comecei a receber instruções de um dos garotos, sobre como aprimorar a técnica de salto recolhendo as pernas e sobre a importância persistir apesar das inevitáveis quedas. Começava assim o que eu considero o terceiro momento.
Sentei-me na escada para retirar por um momento os patins, que machucavam meus pés. Enquanto isso, um garoto chegou à "área dos patinadores" em alta velocidade e com uma postura impositiva. Abordei-o após observar que ele utilizava o Rollerblade Twister 243 (o mesmo patins que eu encomendei pela internet). Conversamos sobre preços nos EUA e no Brasil e sobre taxas de importação. Ele comprou seu patins no início do ano, durante uma viagem que fez aos EUA e contou sobre um apuro que passou na alfândega. Ele elogiou a marca, enfatizando sua resistência que o torna apropriado ao estilo agressive (um estilo repleto de saltos e de slides, ous eja, deslizamentos em corrimões). Apesar do Twister ser indicado para o slalom, o garoto se mostrou mais afim dos saltos. Ele me apresentou a outro amigo, que utilizava um patins especificamente desenhado para o estilo agressive. Este permaneceu junto a mim e o casal, e como eu, alternava-se entre os saltos sobre a armação de madeira e o trançar das pernas na trilha de tampinhas, mostrando pouca familiaridade com estas.
Por sua vez, o casal se mantinha exclusivamente no slalom, prática esta que pode ser melhor caracterizada pelo contraste com a outra que se apresentava. Naquela, as técnicas se diferenciavam pelo efeito visual causado pelo trançar das pernas em torno dos cones (no caso, das tampinhas) e pela técnica difícil, porém mais segura. Por sua vez, o garoto do patins agressive contava a mim e ao casal a respeito dos saltos que ele e seu amigo realizavam na praça, das ladeiras que desciam e de quando aprendeu a "dropar", ou seja, descer do half, um tipo de pista em formato de "U", enfatizando o medo, o risco, o desafio e a provocação dos amigos sem a qual, segundo ele, não teria tido coragem de tentar.
Conversamos também sobre o fechamento das pistas de skate e patins que funcinavam dentro dos shoppings Dom Pedro e Outlet Campinas. Segundo o garoto, não havia sentido para tal fechamento, uma vez que o movimento nas pistas andava bem. Quanto a isso, comentei que talvez o problema não fosse relacionado aos lucros da pista, mas sim ao fato dos skatistas e patinadores constituírem um público indesejado ao shopping (algo que daria uma investigação interessante). Ele e seu amigo frequentam a praça à noite durante a semana e à tarde durante os fins de semana. Segundo ele, estavam na praça na noite de ontem, apesar de eu não ter visto ninguém. Afirmou também que é seguro ficar lá neste horário, pois há um segurança no local e uma delegacia ao lado, e que atualmente as pessoas não têm ido por causa do frio, mas que no verão é possível encontrar cerca de 15 patinadores por lá.
Após nossa conversa, ele me convidou a ir junto de seu amigo, que saltava de cima de uma laje até chão, situado a cerca de 1,5m abaixo daquela. Os dois garotos se alternavam. Junto estava também um dos garotos da dupla anterior, porém, parecia-me que, enquanto os outros dois eram amigos, aquele em relação a estes era apenas um conhecido da praça. Além disso, uma possível diferença em relação ao nível sócio-econômico aparecia nas marcas dos patins, das roupas e dos acessórios. Um dos amigos criticou o outro garoto por utilizar rodas tão desgastadas e este contestou a crítica alegando uma situação financeira desfavorável.
Em seguida, fomos para a beirada da praça, rumo à avenida, onde os garotos iriam saltar de uma pista à outra, sendo que ambas eram separadas por um gard-hail e por um desnível de cerca de 1m. Tive a impressão de que um skatista que passou por nós vocalizou uma interjeição de desprezo em relação a mim e os outros patinadores. Naquele horário (18:00), predominam os praticantes mais performáticos e mais competitivos na praça. Por sua vez, o novo desafio dos patinadores funcionava da seguinte maneira: um de cada vez se posicionava, enquanto os outros, do outro lado, indicavam o momento seguro de atravessar as pistas, quando as duas mãos se encontravam livre de carros (algo difícil naquele horário). Logo, fui designado, de forma espontânea, a cumprir a função de sinalizador. O fiz com certa apreensão no início, porém logo peguei o jeito.
Os dois amigos eram mais experientes e seguros. Acredito que para o outro era a primeira vez e, diante da personalidade impulsiva e competitiva deste, os outros dois e eu ficamos apreensivos. Além disso, um grupo de patinadores conhecidos do garoto chegou e começou a provocá-lo, torcendo por sua queda e dando avisos de início, intencionalmente, em momentos inapropriados, enquanto eu, desesperadamente, gritava avisando-o para não sair ainda. Durante um momento os carros pararam de passar por um bom tempo, mas o garoto perdeu a oportunidade. "Você está inseguro?", perguntou um dos amigos e ele disse "claro que não", mostrando que a pergunta feriu seu orgulho. Ele então se posicionou novamente e, para surpresa de todos, executou o salto sem cair, dando um grito de vibração no final, pela conquista e por saber que havia superado a expectativa de todos.
Restaram apenas eu e um dos amigos na prática. Este persistia, buscando refinar sua técnica de salto e explicando o objetivo que havia colocado para si. Em seguida, reunimo-nos junto aos outros, que conversavam com duas garotas, com uma intenção clara de conquista. Enquanto, até então, a diferença de idade não prejudicara minha interação com os garotos, estando esta pautada exclusivamente na patinação, neste momento senti-me um estranho naquele grupo de adolescentes. Diante disso e do fato de que eu já não suportava os pontos de pressão em meu pé, oriundos da baixa qualidade do patins, despedi-me de todos e parti.
Assinar:
Postar comentários (Atom)

3 comentários:
A apropriação dos espaços pelos patinadores é algo difícil de acompanhar para quem não está também sobre rodas.
Outro dia, meu irmão Rogério disse que costumava ir à Arautos para andar de patins com a filha, e ressaltou que não conseguia interagir com ninguém, uma vez que ninguém dava bola para ele, por ele ser ruim.
Nos patinadores temos que ser mais unidos, ajudar os que nao sabem e aprender com os que podem nos ensinar,atualmente vendi meu roller mas estou para comprar um fusion x7 ou x3, abracos e ate mais ver na praca.
Sinto saudades da BodyLine, e da Radical Roller.
Espero que algum dia campinas volte a ter uma outra pista de patinacao.
Postar um comentário